06/09 | Jardins - manhã

A ideia inusitada surgiu quando caminhava tranquilamente pelas masmorras frias e úmidas na parte subsolo do grande castelo, passando as mãos pelas paredes de pedras escuras, quando um aluno alto e pálido, com cabelos que aderiam à moda estranha dos adolescentes adoradores de música não popular bruxa, passou por mim soltando murmúrios que delatavam uma visível canseira e estresse de uma rotina interminável de estudos. Espiei pela porta pela qual o garoto acabara de sair, abrindo-a de modo que uma pequena fresta surgisse diante dos meus olhos e permitisse com que eu me deparasse com várias expressões semelhantes as do lufano que abandonara a aula mais rapidamente que os outros que ainda recolhiam seus pertences de um jeito espalhafatoso devido à pressa para deixar McHale e seus caldeirões fumegantes a sós. Encostei na parede, exatamente ao lado da porta enquanto vários quinto anistas começaram a passar com rostos emburrados, e alguns deles extremamente imundos por um liquido amarelo amarronzado que exalava um cheiro profundo de quando o Corujal não era limpo regularmente misturado com odor amargo de algumas experiências que ocorriam dentro das estufas de Brandon. Cansaço era a palavra que perfeitamente se encaixava na situação em que eu via aquelas pequenas mentes fugindo das masmorras de aspecto assombroso e amargurado, que era capaz de trazer uma sensação de angustia, melancolia, e um pequeno tom de desespero que podia ser imaginado ao fechar os olhos e sentir na respiração a umidade continua de uma ambiente isolado e desprovido da luz da manhã. Masmorras que traziam desespero com seu silêncio quase sepulcral, apenas invadido por pequenas goteiras quando ali se encontrava sozinho. O lugar realmente não parece propicio a fazer parte de uma rotina escolar, mas trás as indispensáveis vantagens de manter em umidade e temperaturas ideais diversas substâncias mágicas e não mágicas utilizadas na aprendizagem e formação de novos bruxos.

Sem precisar pensar, uma solução imediata surgiu em um estalo de genialidade, como que se estivesse ali a muito tempo apenas esperando para mostrar-se na oportunidade perfeita. Uma festa, era isso que eu precisava organizar, uma festa para que assim os alunos se distraíssem da rotina cansativa e tivessem uma noite voltava especificamente para sua diversão. Em um passo grande e largo, dei inicio a rota que me levaria de volta ao meu precioso e relativamente espaçoso gabinete, tendo como intenção tomar decisões imediatas para iniciar esse desafio agradável. Tinha que ver detalhes que iam desde decoração a segurança, transporte a localidade, data a alimentação. Seria trabalhoso, mas valeria a pena ver feições iluminadas de felicidade quando a noticia fosse finalmente anunciada. Antes de qualquer coisa, tinha que arrumar um lugar e escoltar o departamento de aurores para fazerem a segurança das crianças em tempos tão turbulentos e perigosos, então iria começar entrando em contato com eles. Sentei em minha cadeira que mais parecia um trono de realeza com todos aqueles entalhes manuais feitos por minuciosos artistas bruxos que, valendo-se da antiguidade da cadeira, já não estavam mais vivos para escutarem meus elogios pessoais pelo belíssimo trabalho e, com uma agilidade de um velho experiente, iniciei sem enrolações a minha missiva.

“ Venho por meio desta carta solicitar um grande favor do Ministério da Magia, pois creio que as minhas intenções poderiam trazer problemas se não forem devidamente organizadas e protegidas. Eu, Lawrence, como Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, analisando a situação para qual meus estudantes estão inseridos, gostaria que o Departamento de Aurores disponibilizassem alguns de seus membros para assegurar a segurança da festa que estou cuidadosamente planejando e digo também que, se for facilitar o trabalho destes, me disponibilizo a aceitar sugestões de lugares mais seguros, assim como garanto que deixarei o departamento agir conforme seu julgamento caso algo venha a ocorrer (...) ”

A carta falou sobre horários e datas possíveis, assim como também explicou o motivo que me levava a querer organizar uma festa. Quando finalmente me levantei, depois que quase uma hora escrevendo sobre palavras formais as minhas intenções, guardei o papel em um envelope pardo com o símbolo da instituição em que lecionava e, seguindo em direção ao parapeito da janela, observei uma coruja adulta de penas acinzentas plainando no ar. Desci as escadas tomando rumo aos jardins imensos de gramas verdes brilhantes e bem cuidadas, indo atrás da minha coruja desobediente e independente que, muitas vezes, se esquecia qual era a sua função. Arya, ao me ver, desceu em espirais, exibindo-se em manobras diferentes enquanto diminuía gradativamente a sua altitude, se aproximando em uma velocidade constante até finalmente pousar delicadamente sobre meu ombro esquerdo e bicar levemente a gola das minhas vestes de cores excêntricas. Amarrei a carta na pata da coruja e essa imediatamente lançou-se ao ar, indo direto para o destino que o papel a mandava. – São belos animais, não são? – disse em um tom calmo para a grifinória que estava ao meu lado, a monitora Tissou. Minha memória, apesar de ser falha em muitos aspectos, não se esquecia do nome daqueles que eram responsáveis em garantir a ordem dos membros de suas respectivas casas.

Observei a magnífica coruja levantar vôo, carregando consigo minha carta recém escrita para o Ministério da Magia contendo minhas ultimas idéias para colocar sorrisos nos rostos cansados dos meus alunos. A carta basicamente resumia-se em um pedido formal para garantir a proteção dos freqüentantes de Hogwarts em quanto se divertiam em uma festa que seria realizada em algum lugar ainda não certo, mas em Hogsmeade. Não tinha certeza da quantidade de aurores que poderiam ser disponibilizados para realizar esse capricho em tempos tão conturbados, porém sabia que seria difícil o ministério recusar qualquer tipo de proposta que eu solicitasse. Ao longe, Arya virou um pequeno ponto marrom que, se não estivesse seguindo-a com o olhar desde a sua partida, seria incapaz de identificar sua existência ou até mesmo confundi-la com um pássaro comum. Comentei, em tom ameno e distante, como as corujas eram belos animais. Para ser mais exato, fiz uma pergunta retórica para a grifinória que estava sentada à sombra de uma árvore disposta próxima a mim, lendo um livro o qual não reconheci pela capa.

-São mesmo muito bonitos. – Lorelai concordou, devolvendo o marcador no livro e fechando-o delicadamente. Reconhecera a garota sem precisar fazer esforços, pois, mesmo a minha mente sendo falha em decorar rostos e associá-los a seus devidos nomes, algo que eu não esquecia era quem eram os monitores do meu castelo e se cumpriam suas devidas funções. A grifinória, ao menos em baixo no meu nariz longo e pontudo, nunca tinha feito nada que desmerecesse seu apreciado cargo. Apesar de monitores serem taxados como chatos (principalmente aqueles que são nomeados “monitores chefes” – mas esse não é o caso da garota), suas responsabilidades eram muito maiores do que apenas vigiar seus colegas e dedá-los caso algo suspeito lhes ocorresse, o verdadeiro sentido era manter a ordem, pois sem ordem não há progresso. -Então professor a que devo a honra da sua companhia? – ela continuou após um instante de silêncio. Olhei de esguelha para o rosto jovem da bela garota que agora mordia os lábios, buscando rapidamente algo que revelasse o porque de tamanho peso de seriedade em suas palavras, mas assim que meus olhos encontraram os seus, ela imediatamente desviou-os, focando-os em nenhum ponto certo, apenas passando-os pelo jardim. Um sorriso ameno brotou em meu rosto, em partes por estar curioso, em partes para conter a vontade de questioná-la sobre a inesperada atitude de receio no seu semblante. Sempre fui uma pessoa sensitiva, em palavras mais justas e adequadas, extremamente observador em um ponto principal: atitude e reações. Contudo, sabia calar-me nas horas certas, ou melhor, não intrometer-me precipitadamente.

- A senhorita saberá na hora certa. – juntei as mãos, em um gesto misterioso. Não iria revelar a ninguém meus planos até que esses estivessem com a real possibilidade de ocorrerem. Acreditava que não teria minha proposta vetada, mas nunca se deve contar vantagem. - Mas aviso com antecedência que procure por um vestido bonito. – pisquei, ainda com o sorriso singelo antes de virar-me e a passos lentos e calmos, iniciar uma caminhada de volta para meus aposentos. – Contudo, o grande mistério Srta. Tissou, não é o que eu estou fazendo aqui, mas sim o que você faz sozinha em uma manhã de sábado tão agradável... – disse em um tom divertido, já sem olhar para a grifinória de cabelos longos, andando. Comecei a cantarolar o hino de Hogwarts alto o suficiente para que ela escutasse apesar da distância já tomada.

Off: ações finalizadas.